domingo, 19 de agosto de 2007

O movimento "Cansei" e o controle da opinião pública: algo em comum?

Em virtude dos recentes acontecimentos nacionais como a crise no setor aéreo envolvendo atrasos e cancelamentos de voos nos aeroportos, e os dois acidentes aéreos ocorridos entre Novembro de 2006 e Julho de 2007, a mídia nacional tem dado grande ênfase a um movimento auto-intitulado "Cansei". Em recente publicação no jornal Folha de São Paulo, no dia 17, este movimento organizou uma manifestação na Catedral da Sé em São Paulo, reunindo segundo estimativa da PM 2000 manifestantes, e 5000 pessoas na estimativa feita pela OAB-SP.
Este mesmo movimento realizou outra manifestação, desta vez em Porto Alegre no aeroporto Salgado Filho, reunindo cerca de 250 manifestantes, entre eles os familiares das vítimas do acidente com o Airbus-A320 da TAM. Com faixas de fora Lula e pronunciamentos contra o governo Federal, o movimento seguiu em mais um dia de protestos.
Realmente interessante em toda este processo, tem sido constatar a grande cobertura que os principais veículos de comunicação brasileiros tem prestado ao movimento. As mesmas empresas que em tempos passados, porém muito recentes, se omitiram diversas vezes a relatar outros movimentos ocorridos no Brasil com participações populares absurdamente mais expressivas.
Nas comemorações pelos 500 anos de descobrimento, em 2000, dezenas de milhares de pessoas foram selvagemente impedidas de entrar na cidade de Porto Seguro pelas policias e pelo exército, carregando faixas de protestos, utilizando carros de som entre outras coisas, porque protestavam contra todo o processo de formação social excludente, discriminatório e elitista da nossa nação. Entre os vários movimentos sociais e pessoas presas e agredidas estavam presentes, inclusive, autoridades públicas como deputados e senadores que tiveram os seus direitos políticos igualmente cerceados, como em um verdadeiro estado de sitio. Qual a diferença então entre os dois acontecimentos? A total omissão da imprensa escrita e televisa, alem da timidez de algumas organizações sociais como a OAB no seu relato.
Não que seja alguma novidade para o cidadão esclarecido a total manipulação dos fatos e a ideologização constante, que estes órgãos exercem sobre a população todos os dias. Mas nunca é demais lembrar a total ausência de critérios jornalísticos destes veículos, que são concessões públicas e que pela ingênua concepção republicana deveriam zelar pelo interesse da esfera pública no momento de vincular as suas matérias.
Fica cada vez mais claro que a tática instituída no controle da opinião pública, que a grande mídia reivindica cada vez mais para si, pressupõe não apenas os "ruídos" de comunicação, mas principalmente, a determinação da pauta das discussões públicas. Os fatos sociais se tornão amplamente conhecidos pela população em geral através da imprensa, e esta através das suas redações deliberam os fatos que serão noticias ou não. E o critério destas escolhas? Descaradamente ideológicas.
Entre as centenas de problemas podemos destacar um de natureza politica sui generis: de onde surge tal legitimidade para um exercício de poder de presunção tão onipotente?
Esta é a reflexão que proponho e nela nos concentraremos recorrentemente. A natureza da democracia na qual vivemos esta absolutamente implicada nesta questão. Ou deveria conceituar de outra forma?

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